Construção civil em tempos de coronavírus - Revista Anamaco

Covid-19

Construção civil em tempos de coronavírus

Texto: Redação Revista Anamaco

A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), em parceria com o Sebrae, ConstruLiga e Ethos Soluções realizaram, em 07 de abril, um webinar para tratar e acompanhar a crise desencadeada pela pandemia de coronavírus (Covid-19). Com o tema “Construção civil em tempos de Coronavírus - Como a sua empresa deve agir?”, o evento contou com a participação de Carlos Eduardo Santiago, gerente Adjunto da Unidade de Competitividade  do Sebrae Brasil; Ana Maria Castelo,  professora e coordenadora de Projetos da FGV - IBRE; Geraldo Defalco, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), e Antonio Serrano, CEO da Juntos Somos+, e abordou a conjuntura macroeconômica e os desafios do varejo de material de construção.

Pesquisa de Impacto no Setor da Construção

Carlos Eduardo Santiago iniciou o bate papo apresentando dados da Pesquisa de Impacto no Setor da Construção (a íntegra da pesquisa pode ser conferida em: www.datasebrae.com.br/coronavirus ), realizada pelo Sebrae entre os dias 20 e 23 de março, em que foram entrevistados cerca de nove mil pequenos empresários - entre eles 436 respondentes do setor da construção civil, sendo 25% desse total pertencentes ao varejo de material de construção - em todo o País para avaliar os reflexos da pandemia. “A ideia do Sebrae é acompanhar de maneira contínua a evolução da crise e os impactos no pequeno negócio”, destacou.
Santiago frisou que, assim como os demais segmentos, a crise tem afetado, na prática, a vida dos pequenos empresários da construção. Segundo ele, a pesquisa apurou que 83% dos entrevistados relataram perspectiva de redução no faturamento mensal e que já haviam percebido, na semana em que a pesquisa foi feita, uma queda de 58% no faturamento semanal.
O gerente do Sebrae explicou que a pesquisa tentou avaliar quais as principais fontes de custos para os pequenos negócios e como isso vem sendo afetado, perguntou que medidas já vêm sendo adotadas e quais ações ainda não foram implementadas, mas que deverão ser adotadas nos próximos meses e alguma perspectiva de duração da crise.
Dessa forma, o levantamento apurou que para 56% dos pequenos negócios da construção, os principais custos são referentes à folha de pagamentos; outros 43% indicaram custos para pagamento de empréstimos já contraídos; 39% apontaram gastos com matéria-prima e insumos; 38%, impostos; e 28%, aluguel.
Com relação às medidas já adotadas pelos empresários, a pesquisa destaca, para além de ações que estão sendo tomadas em qualquer segmento empresarial, como disponibilização de álcool em gel para os funcionários e clientes e intensificação dos processos de limpeza da empresa, cerca de 30% dos entrevistados afirmaram que já fizeram o fechamento temporário do negócio e 23% reduziram a jornada de trabalho dos funcionários. Como medidas futuras, a maior parte dos empresários da construção indicaram que vão precisar de crédito para dar conta da operação.
No que se refere às políticas governamentais esperadas pelos empresários da construção, para 40% dos entrevistados se sobressai a demanda por subsídios para pagamentos de salários e outros custos fixos; 38% esperam redução de impostos e taxas e 30% têm a expectativa de aumento da linha de crédito.
Santiago destacou, ainda, que boa parte do empresário da construção acredita que esta não será uma crise de curto prazo e que o tempo para a crise ser superada será entre quatro meses e um ano. “Se eu pudesse resumir o que fazer nesse momento, a partir dos dados da pesquisa, bateria em três teclas: renegociação de valores e prazos, ficar atento às medidas governamentais e tentar inovar, adotando medidas om inserção digital”, finalizou.

A conjuntura e o Covid-19 na construção: o que esperar de 2020?

Na sequência, Ana Maria Castelo abordou o tema “A conjuntura e o Covid-19 na construção: o que esperar de 2020?”.  A professora da FGV iniciou dizendo que a iniciativa de se fazer um bate papo é importante porque, em tempos de incerteza, nada melhor do que promover o debate e a informação. “É discutindo que conseguimos visualizar melhores caminhos”, observou.
Ana Maria comentou que as projeções da FGV antes da crise eram de crescimento de 2% para o Brasil e 3% para o setor da construção - o que engloba a parte formal, representada pelas construtoras, e autoconstrução e autogestão. Em termos de Produto Interno Bruto (PIB), a coordenadora explicou de 52% é oriundo da parte formal e 48% vêm da autoconstrução. Segundo ela, do crescimento previsto de 3%, a maior parte viria da autoconstrução, que seria de 4,5%, como vem sendo nos últimos anos. “Depois de cinco anos de queda no PIB, 2019 foi o primeiro ano de crescimento do PIB da construção, embora ainda pífio, e 2020 seria o segundo ano”, explicou.
Mas, com a pandemia do coronavírus, o cenário mudou, não apenas no Brasil , e alterou todas as projeções de crescimento. Na sua avaliação, ainda há muita incerteza sobre a dimensão desse impacto, mas há algumas indicações e as grandes questões são: quão forte será a crise e como se dará a recuperação.
Ana Maria comentou que uma pesquisa realizada pela FGV mostrou que se nada fosse feito de proteção de renda, considerando um isolamento social de três meses, haveria uma queda de 3% na queda do País. Considerando a medida protetiva de R$ 600 anunciada pela Governo Federal, essa queda poderia ser reduzida para 1,9%.
A expectativa é do que haverá uma retração entre 1% e 2% do PIB da construção e que o impacto maior é esperado para o segmento de autogestão. No caso das construtoras depende da paralisação ou não das obras. No Estado de São Paulo, por exemplo, que estava comandando a retomada do mercado imobiliário, poucas obras foram paralisadas, o que é importante para manter o ciclo de atividade. Por outro lado, há postergação de obras que ainda iam começar. “Projetamos retração no PIB da construção, dependendo do que possa acontecer com o segmento formal, já que autoconstrução  autogestão vão sofrer os impactos da crise”, antecipou.
A grande questão, segundo a professora, é pensar na recuperação, ou seja, se ela vai acontecer imediatamente ou se vai demorar. Ainda há muita incerteza, mas a construção civil passa a ter um papel muito importante nessa retomada à medida que é um setor que tem capacidade de gerar efeito multiplicador na economia.

Como as lojas de material de construção estão enfrentando a crise?

O presidente da Anamaco, Geraldo de Falco, falou sobre “Como as lojas de material de construção estão enfrentando a crise? Desafios macro e oportunidades aos pequenos negócios. Segundo ele, esse cenário que se configurou em março é muito novo e sem precedentes.
Ele lembrou que quando as lojas começaram a ser fechadas, a opção que o grupo de material de construção encontrou foi pedir a inclusão do setor como atividade essencial. Dessa forma, aos poucos, a entidade, juntamente com outras ligadas ao setor, conseguiu o entendimento do governo sobre essa característica do varejo do segmento. “Embora em boa parte dos Estados as lojas estejam abertas, registramos queda de 50% nas vendas no início da quarentena e de 30% em um segundo momento”, destacou, acrescentando que as pequenas reformas sustentaram o movimento nas lojas.
Na sua avaliação, apesar do momento ruim, o setor deverá sair com maior velocidade da crise. Segundo ele, se houver dinheiro para injetar na economia, o momento difícil será mais facilmente enfrentado e destacou que para recuperar a economia, deverá haver investimentos do governo em infraestrutura. “Precisamos de apoio do governo, crédito e socorro aos comércios, não apenas de material de construção. Assim, conseguiremos sair dessa confusão que afetou o mundo inteiro”, frisou.
Defalco lembrou que as lojas usaram a criatividade para não parar as atividades mesmo com as portas fechadas. Usaram ferramentas como vendas ativas por telefone, Whatsapp e fizeram entregas. “Essa foi uma saída importante, conseguiram manter um pouco de vendas e não aglomeraram pessoas”, reforçou.
O presidente da Anamaco destacou, ainda, que as pequenas reformas e as construções horizontais sustentam as vendas do comércio varejista. Sendo assim, nesse momento em que as pessoas ficam mais em casa, começam a enxergar “defeitos” em casa, o que pode gerar demanda e estimular a compra de material de construção. “O faça você mesmo pode unir a família, distrair as pessoas durante o confinamento, fazer o tempo passar mais depressa e, de quebra, deixar a casa mais bonita”, finalizou.

Mudanças nas indústrias, no varejo e nos profissionais da construção civil durante e após a crise

Por fim, Antonio Serrano falou sobre “Mudanças nas indústrias, no varejo e nos profissionais da construção civil durante e após a crise”. Segundo ele, é consenso entre os países que, seis meses após esse momento de crise, investimentos maiores serão feitos em saúde e educação e em menor escala em gastos que podem ser adiados. Segundo ele, como já há um déficit habitacional enorme no Brasil, que chega a 7,7 milhões, há uma demanda reprimida enorme, o que gea otimismo.
Segundo ele, a indústria de material de construção tem uma perspectiva interessante sobre o que está acontecendo. Em março já sentiram impacto de queda de 43%. E as projeções para o segundo trimestre - abril a junho - de todas as empresas é de queda, sendo que 75% delas trabalham com recuo de mais de 20%.
Mas quando se analisa o ano inteiro, percebe-se o quão incerto o setor está porque para 50% o ano vai ser igual ou pouco melhor do que 2019 e metade acha que será 10% menor do que ano passado. “A construção civil passou cinco anos com decréscimo do PIB e o varejo aprendeu muito a viver na crise, o que o tornou mais preparado para enfrentar esse momento. Há muita criatividade no setor. As lojas de material estão muito dinâmicas, mas ainda há muito o que fazer porque muitas delas ainda não têm e-commerce”, lembrou.

Foto: Adobe Stock

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