De malas prontas para a Espanha - Revista Anamaco

Leroy Merlin

De malas prontas para a Espanha

Texto: Redação Revista Anamaco

Inicia-se, em agosto, mais uma fase na vida de Alain Ryckeboer, atual diretor-Geral da Leroy Merlin no Brasil, e na história da própria empresa. Depois de 23 anos de atuação no País, dos quais 14 anos à frente do comando das operações nacionais, o executivo assumirá a direção Geral da Leroy Merlin na Espanha. “Saio triste por deixar o Brasil, minha segunda pátria, onde meus filhos nasceram, mas alegre por enfrentar novos desafios”, afirma, reconhecendo que a transição é um processo natural, sadio e importante para a troca de pontos de vista e experiências.
Responsável por transformar a Leroy Merlin na marca líder do varejo de material de construção no Brasil, Ryckeboer chegou em 1997 integrando a primeira equipe da companhia no mercado brasileiro, com o desafio de desenvolver as operações, iniciadas com a primeira loja, no bairro paulistano de Interlagos, em 1998.
Em seguida, comandou a primeira operação comercial fora do Estado de São Paulo, a unidade de Contagem (MG) até 2002, quando assumiu a direção Regional para os Estados do Sudeste. Em 2006, chegou à direção-Geral da Leroy Merlin Brasil.

                                                                                              
Nesses 14 anos, muita coisa mudou dentro da empresa e no mercado do setor. Um dos pilares de sucesso da marca no País foi sua adaptação à cultura nacional, num processo que integrou, na época, os três mil colaboradores, que ajudaram a definir as características e diretrizes que as lojas deveriam ter para atender aos consumidores brasileiros de forma satisfatória. “Entre 2007 e 2008, escrevemos o projeto da empresa no Brasil pois, até então, utilizávamos o francês. Queria que a companhia fosse brasileira. Todos os colaboradores contribuíram na redação e colocaram o cliente no coração do projeto. Passamos a falar de desenvolvimento sustentável quando ninguém falava nisso”, lembra Ryckeboer.
Mais do que isso, o Grupo se dedicou, e ainda se dedica, a ouvir seus clientes. Cerca de 50 mil consumidores são consultados anualmente. “Entramos no processo de escuta dos clientes, colaboradores e acionistas. Percebemos que, cada vez que abríamos uma nova loja, a resposta era imediatamente positiva, principalmente pela adequação das unidades ao estilo e gosto dos clientes. Passado esse período de consolidação, entramos em uma fase de aceleração, onde nosso objetivo passou a ser a inauguração de um número maior de lojas”, conta. Hoje, são 42 unidades, em 12 Estados e no Distrito Federal.
O executivo lembra que enfrentou muita coisa nesse período. “Passei por cinco crises, a quinta é esta da pandemia. Estes altos e baixos foram um aprendizado fenomenal para um profissional, para desenvolver agilidade, adaptar-se ao cenário que muda negativa e rapidamente”, afirma. “Mas nunca deixamos a crise entrar na empresa, mantivemos a cabeça erguida”, completa.
Ryckeboer classifica como fantástica a equipe formada e ressalta as boas parcerias com fornecedores, 80% delas criadas desde a fundação, que perceberam a seriedade da empresa e a continuidade das estratégias traçadas, apesar das dificuldades. “Há muitas oportunidades na indústria, que podem melhorar, mas são parcerias importantes, que nos ajudaram a conquistar a liderança em 2009. A liderança não de faturamento, mas da satisfação dos clientes”, reforça.
 

Lições, ação e reconhecimento

Ao longo desses anos, a Rede ganhou diversos prêmios tanto pela gestão e pela forma de trabalho, oriundo do mercado, de fornecedores, clientes e da opinião de seus funcionários, hoje um quadro de cerca de 10 mil pessoas. Ryckeboer lembra do projeto realizado em 2010, quando todos os colaborem participaram da elaboração da visão da empresa para 2020. “Estamos em 2020 e realizamos 95% do que foi proposto e até mais do que prevíamos”, conta.
Um dos destaques foi a total renovação tecnológica pela qual a Leroy Merlin passou em cinco anos, um projeto de R$ 260 milhões, que colocou a companhia no mundo da multicanalidade e permitiu contar com plataformas de instalação, entrega, serviços, tudo com muita facilidade. Muitos projetos de inovação ainda estão em desenvolvimento, segundo o diretor, inclusive tornar a empresa digital em termos organizacionais, de governança, eliminando alguns vícios que ainda existem.
A recente crise criada pela pandemia do Covid-19 demonstrou que as medidas foram acertadas e permitiram uma resposta rápida aos acontecimentos e à continuidade do atendimento aos clientes da empresa. “As vendas à distância passaram de 3% para 10% no período, foi muito difícil no início, mas tenho orgulho das equipes que trabalharam duro para que tudo desse certo, pois os pedidos passaram de 80 para 700, por dia, por loja. Tanto que recuperamos o que perdemos, premiamos quem trabalhou e até contratamos durante a crise. Estávamos preparados”, salienta.
O executivo conta que foi preciso negociar, inicialmente, a postergação de pagamento junto aos fornecedores para resguardar o caixa, mas, uma vez recuperado o volume de vendas, os pagamentos foram normalizados antes mesmo dos prazos previstos. “É uma relação de ganha-ganha com as indústrias”, faz questão de ressaltar.
A urgência de adaptação à nova realidade imposta pelas medidas de confinamento e ameaça de contaminação pelo coronavírus exigiram capacidade de respostas rápidas por parte da empresa. E deu tudo certo. “Recuperamos tudo o que perdemos, estamos com ótimos resultados e superamos o projetado. Deveremos ter um 2020 muito bom”, afirma.
Ryckeboer acredita na maior valorização da casa por parte dos consumidores, muitos deles que continuarão em home-office e outros que perceberam a importância da casa e de ter um ambiente bonito e de convívio, evitando supérfluos, é uma tendência, na sua opinião, que deve ficar.

No Brasil, as pessoas reagem positivamente a novas ideias, têm muita energia, que faz ser prazeroso trabalhar aqui. São relações humanas fortes e sinceras

Para conquistar esses consumidores, a Leroy Merlin reforçou o relacionamento com os clientes nas redes sociais, estabeleceu mais intensamente atendimento e vendas por WhatsApp e Instagram, e fortaleceu a equipe destinada ao controle das redes. Além disso, o Marketplace segue em crescimento.
O bom trabalho desenvolvido foi reconhecido dentro e fora do Grupo Adeo, do qual a Leroy Merlin faz parte, que considera as operações brasileiras as mais inovadoras, digitais e de grande potencial de crescimento. “Aceitei trabalhar no Brasil como uma aventura pessoal e profissional, uma oportunidade de construir as operações num novo país. Aceitei na hora e não imaginava que ficaria por 23 anos e que chegaria à direção Geral. Aprendi muito aqui”, revela. “Conheci muitos lugares na América do Sul, mas tenho a sensação de ainda ter muito a descobrir no Brasil, fiz muitos amigos e é difícil nos decepcionarmos com as pessoas aqui”, garante.
Ryckeboer sai do Brasil bastante grato pelos anos que passou no País. “Tenho de agradecer aos fornecedores, que confiaram em nós desde o início, à Anamaco, na pessoa de Claudio Conz e aos seus sucessores, aos sindicatos e prefeitos, à Beth Bridi, da Grau 10 Editora, e à equipe sensacional da Leroy Merlin”, afirma. “Saio com a sensação de dever cumprido”, complementa.

                                                                                               
Além do legado de transformar a Leroy Merlin numa das principais marcas do setor no Brasil e de promover a criação de toda a estrutura tecnológica e de inovação da empresa, o executivo deixa o comando brasileiro com dois projetos engatilhados. Um deles é a “L’Espace AD”, uma nova marca independente direcionada a profissionais da arquitetura e design, cuja unidade deverá ser inaugurada junto à loja Tietê, em São Paulo (SP), ainda neste ano. Outro conceito de loja física também deverá ser lançado, mas os detalhes não foram revelados.
A avaliação que fica é de um intenso aprendizado com a cultura brasileira, considerada por ele como aberta, otimista, voluntariosa e de confiança entre as pessoas. “As pessoas reagem positivamente a novas ideias, têm muita energia, que faz ser prazeroso trabalhar no Brasil. São relações humanas fortes e sinceras, diferente dos franceses que são mais resistentes a mudanças”, observa.
O executivo ainda destaca a humildade sem hipocrisia do povo brasileiro, sua resiliência, que o torna mais forte, mas lamenta que boa parte dos políticos não lute pelo Brasil, não trabalhe num projeto de Educação a longo prazo, que colocaria o País entre as sete maiores economias do mundo, reduzindo as desigualdades. “Aqui, tem tudo para isso”, destaca.
Ele vê também, um setor em evolução, que está se estruturando aos poucos, com crescimento físico difícil, dado o elevado custo de execução e manutenção dos pontos de venda. As margens são menores se comparadas às da Europa (-10%) e isso é um desafio. Ainda assim, o executivo considera que a Leroy Merlin tem muito espaço para crescer, num mercado em que os home centers representam 15% do total.
Na sua avaliação, as lojas de bairro ainda deverão continuar fortes, por oferecerem proximidade e conveniência aos clientes. Ryckeboer também acredita no crescimento do mercado digital, dos sites especializados, Marketplaces e plataformas que integrem serviços.
Em seu lugar, assumirá Ignacio Sánchez Villares, economista e administrador de empresas, há 11 anos diretor-Geral da Leroy Merlin Espanha, com experiência em diferentes funções dentro da empresa e em outras operações do Grupo Adeo. “A Espanha é um grande país e a Leroy Merlin, com 130 lojas e quase 15 mil colaboradores num país que é do tamanho de Minas Gerais, é reconhecida e referenciada por lá, assim como aqui no Brasil. Vou continuar aprendendo muito e um desafio pessoal e profissional”, finaliza Ryckeboer.

Fotos: Alan Morici/Grau 10 Editora e Divulgação

 

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