Quarto dia de paralisação termina com trégua
Nesta quinta-feira (24 de maio), a paralisação dos caminhoneiros completou seu quarto dia consecutivo. O movimento, que bloqueia diversas rodovias estaduais e federais em todo o País, reivindica a diminuição do preço do óleo diesel e começa a afetar o abastecimento de produtos em diversos setores. No varejo de material de construção, o desabastecimento já é uma realidade.
Agora a noite o Governo Federal e os sindicatos dos caminhoneiros seleram um acordo garantindo uma trégua de 15 dias nos protestos. Entre outros coisas, o Governo Federal garantiu que a redução de 10% no preço do diesel, que a Petrobras já havia anunciado valendo para 15 dias, será estendida para 30 dias, sendo que os cofres públicos arcarão com a diferença do acréscimo de mais 15 dias. Outra promessa feita aos grevistas é de que, de agora em diante, o preço do diesel será modificado apenas uma vez ao mês, sendo que essa perda, que poderá ser acarretada à Petrobras, também será de responsabilidade do Governo.
Ainda não se sabe se o que seria o quinto dia de paralisações trará tranquilidade e se a vida dos brasileiros voltará à normalidade, mas é isso que a maioria espera de fato, pois o desabastecimento de alimentos, combustível, querosene para os aeroportos e também prejuízos ao abastecimento de material de construção ecoam por todo País. Como publicado ontem - terceiro dia de greve - aqui no Portal da Revista Anamaco On Line - a Votorantim Cimentos foi a primeira indústria a informar que estava tendo dificuldades para distribuir seus produtos em boa parte do País desde segunda feira (21 de maio), quando as interdições das estradas começaram.
Hoje, foi a vez da Weber Saint-Gobain emitir um comunicado informando que, devido aos bloqueios dos principais acessos e rodovias, é possível que haja atraso nas entregas dos produtos que fabrica.
Como o cimento é considerado um produto de alto giro nas lojas de material de construção, o primeiro impacto para o setor foi a falta desse produto. Antenor Novakoski, presidente da Federação das Associações dos Comerciantes de Material de Construção de Santa Catarina (Fecomac-SC), lembra que as revendas do setor têm por rotina receber cimento quase que diariamente. Dessa forma, essa foi a primeira baixa sentida no segmento.
Hoje, de acordo com Novakoski, além do cimento, lojistas de Santa Catarina já estão sofrendo com a falta de ferro e material básico, como areia. “Não são apenas as pequenas empresas da nossa região que estão desabastecidas. Os home centers também já foram afetados”, reforça.
Novakoski conta, ainda, que algumas indústrias de tintas, PVC e cerâmica cancelaram as entregas. “O clima está tenso porque além de não termos alguns produtos, a greve deverá afetar as vendas das demais linhas. Aqui no Estado, hoje, o clima é de feriado”, lamenta.
Apesar dos transtornos causados, o movimento está recebendo apoio popular - há diversas campanhas nas redes sociais em favor da categoria – e também de entidades de classe. A Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), por exemplo, em nota, destacou que a entidade representa um setor que movimenta, nacionalmente, uma frota de 100 mil caminhões e abastece, todos os dias, mais de 5.570 municípios e que o efeito do diesel nos custos das empresas do setores é grande e já tem pressionado o preço dos produtos nas gôndolas e que analisando sob esse aspecto, a mobilização é legítima. Por outro lado, entende que o recurso da greve, nos moldes em que ocorre, trouxe e tem potencial para ocasionar mais prejuízos para a sociedade.
O começo do impacto no setor
Ontem, no terceiro dia de protestos dos caminhoneiros, o varejo do setor começou a sentir os reflexos da paralisação. Com a impossibilidade da indústria de entregar, rapidamente, as lojas começaram a ser afetadas. Desde então, de acordo com o presidente da Fecomac-SC, as revendas do segmento, na região de abrangência da entidade, começaram a sentir o desabastecimento de produtos considerados de giro rápido como o cimento. “Eu acredito que a manifestação terá um impacto muito grande sobre o setor”, lamenta Novakoski.
Segundo o presidente da Fecomac-SC, a saída, em princípio, para não deixar os clientes sem mercadorias, será comprar dos distribuidores. “Quando os lojistas perceberem que as marcas líderes estão em falta, vão tentar honrar seus compromissos entregando outras marcas secundárias”, opina.
Na região de Campinas, no interior paulista, a situação também é similar: o cimento está sumindo das prateleiras. Wilson Takashi, presidente da Associação dos Comerciantes de Material de Construção (Acomac) de Campinas, conta que as revendas locais estão com dificuldade em receber o produto de várias cimenteiras. “Tentou comprar indiretamente, por meio de dois distribuidores, mas as tentativas foram em vão. Eles estão sem receber desde terça-feira e também não têm o cimento para vender”, completa Takashi.
Segundo ele, o entrave maior está acontecendo com as empresas que terceirizam as entregas e quando o serviço é próprio da indústria o problema não está ocorrendo.
Luiz Augusto Gonçalves Barbosa, diretor do Depósito Zona Sul (SP), diz que desde terça-feira – segundo dia da greve- está sentindo o reflexo da paralisação. Ele comenta que uma marca de cimento já deixou de entregar e que, diante da falta do produto, na venda já oferece o item de outra empresa para o cliente. “Ainda não estão estamos tendo grandes problemas, mas é uma situação grave”, conclui.