Aumento consciente do endividamento
Texto: Redação Revista Anamaco
De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) teve ligeiro aumento em novembro, após quatro meses consecutivo de redução, alcançando 77,0%, acima do resultado de novembro do ano passado (76,6%). Essa reversão, segundo a entidade, já era esperada, com os consumidores precisando mais de crédito para conseguirem realizar as compras de fim de ano.
Apesar desse aumento, a queda na percepção de endividamento continuou, com redução do percentual de pessoas que se consideram “muito endividadas”, alcançando 15,2%, o menor nível desde novembro de 2021. No entanto, diferentemente dos outros meses, o percentual daquelas que “não têm dívidas desse tipo” reduziu, indo para 23,0%.
Em movimento similar ao mês passado, houve o terceiro aumento consecutivo do percentual de famílias com dívidas em atraso, 29,4%. O percentual das que não terão condições de pagar as dívidas em atraso também aumentou, indo para 12,9%, com ambos os resultados se mantendo em nível menor do que em igual mês de 2023. Esses continuaram sendo os maiores percentuais desde outubro de 2023.
O estudo mostra que, apesar dos consumidores terem mais contas atrasadas, estão conseguindo reduzir o tempo para conseguirem ficar em dia com suas dívidas, mostrando o efeito da redução do endividamento nos últimos meses.
Dessa forma, o percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias recuou em relação ao mês anterior, chegando a 49,6% do total de endividados em novembro deste ano, após cinco meses de aumento no indicador.
O percentual dos consumidores que têm mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas também quebrou a tendência dos meses anteriores e apresentou queda, atingindo 20,3%, o menor percentual desde agosto de 2024.
O nível de juros mais alto, de acordo com a CNC, é um fator preocupante que continua levando a um aumento da inadimplência, sendo mais alarmante em um período quando os gastos são quase inevitáveis, como o fim de ano. Contudo, a pesquisa mostra que as famílias estão conseguindo equilibrar suas dívidas. Apesar de recorrerem mais ao crédito, os prazos mais longos ajudam a amenizar o impacto, fazendo com que as contas sejam pagas mais rápido e representem um menor percentual da renda mensal, levando, assim, a uma percepção de já não estarem mais tão endividadas.
Nesse cenário, o cartão de crédito continuou tendo a maior participação no volume de endividados no mês, sendo utilizado por 83,8% do total de devedores; contudo, houve retração de 3,9 p.p. na comparação com novembro de 2023.
A categoria de crédito pessoal continuou se destacando, com aumento de 2,5 p.p. na comparação anual, tendo maior procura por causa das constantes reduções das taxas de juros dessa modalidade em relação ao ano passado, tendo a menor taxa desde fevereiro deste ano. Já carnês continuaram perdendo representatividade na carteira de crédito dos consumidores (-0,7 p.p. em relação ao ano passado), mas permaneceram como a segunda categoria mais utilizada, estando apenas 4,2 pontos percentuais acima do crédito pessoal.
Ao analisar os dados desagregados por renda, na comparação mensal, a maior parte da população aumentou seu endividamento independentemente da renda, com queda apenas entre aqueles que recebem mais de 10 salários mínimos, necessitando menos desses recursos para seu consumo.
Em relação ao aumento do percentual de famílias que não terão condições de pagar essas dívidas, também foi concentrado na parcela de menor renda, tendo uma queda para as famílias com renda entre cinco e 10 salários mínimos em comparação a novembro do ano passado e estabilidade para o grupo considerado mais rico, tendo essas parcelas da população mais capital para conseguir arcar com suas dívidas.
Projeções da entidade mostram que o endividamento deve evoluir no último mês do ano, com as famílias utilizando o crédito para as compras de fim de ano. Contudo, a inadimplência deve se manter estável em dezembro.
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