Descompasso entre gastos e arrecadação
Texto: Redação Revista Anamaco
O Impostômetro, painel instalado da sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), localizado no centro da capital paulista, registrou, em 03 de julho, que os contribuintes brasileiros já pagaram R$ 2 trilhões em impostos em 2025. O valor representa um aumento de 11,1% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o painel marcava R$ 1,8 trilhão.
Ulisses Ruiz de Gamboa, economista do Instituto de Economia Gastão Vidigal (IEGV) da ACSP, explica que a marca foi atingida 19 dias mais cedo devido a uma combinação de fatores que impulsionaram a arrecadação tributária, como o aquecimento da atividade econômica. “A inflação também desempenhou um papel relevante, uma vez que o sistema tributário brasileiro é, majoritariamente, baseado em impostos sobre o consumo, que incidem, diretamente, sobre os preços dos bens e serviços”, completa Gamboa.
O economista também aponta outros fatores que explicam o crescimento da arrecadação: a elevação das alíquotas do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e diversas medidas adotadas pelo Governo Federal, como a tributação de offshores, a reoneração dos combustíveis, mudanças na tributação de incentivos fiscais dos estados e a retomada do voto de qualidade do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF).
Na sua análise, as perspectivas de crescimento da economia e, consequentemente, da arrecadação tributária em 2025 são mais modestas. “Apesar de novos aumentos das alíquotas do ICMS e da inflação, que continuarão impulsionando a arrecadação, o crescimento econômico esperado para o ano é menor, devido, principalmente, à elevação da taxa de juros básica (Selic)”, pontua o economista.
No mesmo período, a plataforma Ga$to Brasil, que compartilha o painel com o Impostômetro, aponta que, enquanto a arrecadação tributária soma cerca de R$ 2 trilhões, os gastos não financeiros (primários) do setor público, em todas as esferas de governo, ultrapassam R$ 2,6 trilhões no mesmo período, segundo dados da plataforma. Ou seja, o governo está gastando mais de R$ 550 bilhões além do que arrecada, mesmo sem incluir o pagamento dos juros da dívida pública. Esse descompasso evidencia um problema de solvência nas contas públicas.
Gamboa frisa que o dado positivo é que a arrecadação está crescendo em ritmo mais acelerado do que no ano passado. “Isso pode refletir o aquecimento da economia, com mais empregos, mais consumo, investimentos e empresas com maior faturamento. Mas também é resultado da inflação e do aumento da carga tributária, com elevação de alíquotas e o fim de isenções fiscais”, diz o economista.
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