Indicadores em alta
Texto: Redação Revista Anamaco
A Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa) continuou avançando pelo terceiro mês, alcançando 77,6% em abril. Embora ainda abaixo do resultado do ano passado (78,5%), esse é o maior percentual desde agosto de 2024.
O estudo revela que, apesar do aumento, o mês continuou apresentando melhora da percepção do endividamento, com a queda do percentual de pessoas que se consideram “muito endividadas”, indo para 15,4%. A diferença foi, principalmente, para os “pouco endividados”, resultado favorável para o mês.
Diferentemente de março, em abril o maior endividamento foi acompanhado por uma alta do percentual de inadimplência, que atingiu 29,1%, mesmo nível encontrado em janeiro deste ano e superior ao de abril de 2024.
Nesse cenário, o percentual de famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso interrompeu sua tendência de queda de três meses e avançou para 12,4%, também acima do resultado de abril de 2024.
Além de terem menos condições de pagar as contas atrasadas, os consumidores estão ficando mais tempo com suas dívidas atrasadas. O percentual de famílias inadimplentes por mais de 90 dias também interrompeu a tendência de redução, permanecendo em 47,6%, enquanto o aumento ocorreu principalmente no período entre 30 e 90 dias.
Outro quesito preocupante foi a redução dos prazos para arcar com as contas. Tanto que o percentual de famílias comprometidas com dívidas por mais de um ano continuou em queda pelo quarto mês, alcançando 33,4%, o menor percentual desde junho de 2024 (32,8%), enquanto houve aumento do comprometimento entre três meses e um ano, mostrando que o endividamento está sendo cada vez mais de curto e médio prazos.
No entanto, um fator favorável do mês é que o percentual dos consumidores que têm mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas apresentou redução, atingindo 20,5% e retomando o nível de fevereiro. Contudo, o percentual médio de comprometimento da renda com dívidas acelerou para 30,0% em abril, com a maior parte das famílias (55,4%) possuindo entre 11% e 50% da renda comprometida.
A pesquisa indica, ainda, que nas modalidades de crédito, o cartão de crédito continuou tendo a maior participação no volume de endividados no mês, sendo utilizado por 83,8% do total de devedores; contudo, houve retração de 3,2 p.p. na comparação com abril de 2024.
A categoria de carnês se destacou novamente este mês, com aumento de 1,1 p.p. na comparação anual, permanecendo como a segunda categoria mais utilizada, estando 6,9 p.p. acima da terceira categoria, crédito pessoal, que avançou 0,4 p.p. no período.
Ao analisar os dados desagregados por renda, na comparação mensal, o aumento do endividamento ocorreu em todas as famílias, principalmente entre aquelas que recebem entre cinco e 10 salários mínimos (+1,6 p.p.) e acima de 10 salários mínimos (0,7 p.p.). Contudo, diante de abril do ano passado, este último grupo teve a maior retração (-4,4 p.p.).
O estudo revela que o percentual de inadimplência evoluiu para quase todas as rendas no mês, com as famílias com renda entre três e cinco salários sendo a exceção com estabilidade. Aquelas com renda entre 5 e 10 salários foram as que mais aumentaram as contas atrasadas (+0,9 p.p.).
Os consumidores com renda entre três e cinco salários conseguiram melhorar suas condições de pagar as dívidas atrasadas, enquanto houve um aumento do percentual de famílias entre 5 e 10 salários que estão com dificuldade de sair da inadimplência.
As famílias de menor renda foram as que apresentaram o maior avanço do endividamento e da inadimplência em relação ao mesmo período de 2024, revelando um limite para o aumento do crédito como forma de pagar as contas.
Projeções da CNC mostram que o endividamento deve continuar aumentando ao longo deste ano. Contudo, uma expectativa de aumento também da inadimplência deve arrefecer esse movimento e gerar cuidado ao longo de 2025.
Desse modo, a expectativa da entidade é fechar com as famílias significativamente mais endividadas (+2,4 p.p.) e mais inadimplentes (+0,5 p.p.).
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