Mais do que simulação
Reportagem: Ariane Guerreiro/Grau 10 Editora
Se houvesse um ‘clone’ de um produto, de uma loja, processo, equipamento ou fábrica para testes, simulações e análises, o quanto isso beneficiaria seu negócio? Essa tecnologia, conhecida como gêmeos digitais, já existe e vem conquistando espaços no setor da construção. Trata-se de uma réplica virtual de objetos, processos ou espaços físicos e permite, com informações colhidas no mundo físico, fazer simulações, testes, cenários, monitoramento e análise no ambiente digital a serem aplicados novamente no mundo físico em tempo real
A evolução das soluções digitais e da internet tem permitido o desenvolvimento de tecnologias que podem facilitar muito o dia a dia das mais diferentes empresas, com ganhos de produtividade, melhores operações e menores custos. Uma das ferramentas que vêm ganhando espaço na cadeia da construção e de outros setores é o gêmeo digital, que abre diversas possibilidades de uso em todas as etapas da gestão de um negócio.
Trata-se de uma réplica virtual (um gêmeo) de objetos, processos ou espaços físicos - como produto, uma fábrica, canteiro de obra, loja ou mesmo uma cidade inteira -, e permite, com informações colhidas no mundo físico, fazer simulações, testes, cenários, monitoramento e análise no ambiente digital a serem aplicados novamente no mundo físico, tudo em tempo real.
Com conceito criado pela NASA (National Aeronautics and Space Administration - Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, em português), nos Estados Unidos, para simular e monitorar naves espaciais à distância, a ferramenta tem sua aplicação difundida nos mais diversos setores, muito em função do desenvolvimento da internet, e favorece a geração competitividade e impulsionar o desenvolvimento de setores diversos.
A ferramenta usa dados em tempo real enviados de sensores para simular o comportamento e monitorar as operações, sejam produtos, ambientes, equipamentos, permitindo observar o desempenho de um ativo, identificar possíveis falhas e tomar decisões mais acertadas.
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Segundo a fundadora e CEO da Connect Shopper, palestrante e mestre em comportamento do consumidor, Fátima Merlin, no varejo, os gêmeos digitais começaram a ganhar espaço a partir de 2018, impulsionados pela evolução da Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), Machine Learning (ML) e big data, e teve, no varejo, Walmart, Home Depot e Amazon como os primeiros a adotarem a tecnologia, utilizada para simular operações de loja, otimizar layout e sortimento e antecipar o comportamento do consumidor.
Compatíveis com outras tecnologias, como códigos de barras, QR Codes e RFID, ou Modelagem de Informação da Construção (BIM), os gêmeos digitais geram informações que baseiam melhores decisões, levando à maior eficiência da cadeia. “A integração de dados reais em um modelo digital proporciona uma capacidade sem precedentes de análise e tomada de decisões aprimorada em todas as etapas de um projeto de construção, por exemplo”, explica o executivo de Desenvolvimento Setorial da Associação Brasileira de Automação - GS1 Brasil, Gustavo Tarallo.
Os gêmeos digitais estão mais difundidos em países, como Estados Unidos, Alemanha, China, Reino Unido e países nórdicos, especialmente em setores como manufatura, construção e varejo. No Brasil, a tecnologia passou a ser mais conhecida e aplicada a partir de 2021, principalmente entre redes de supermercados, home centers e farmácias, ainda em fase piloto ou com foco em áreas específicas - como planogramas virtuais ou simulações de fluxo de loja. Desde então, explica Fátima, o avanço de plataformas mais acessíveis e da digitalização têm acelerado a adoção da ferramenta pelo varejo e a tendência é de crescimento. “A pressão por eficiência, digitalização e competitividade está acelerando a adoção. O avanço de IA e IoT está tornando a tecnologia mais acessível e escalável”, observa Fátima.
O gerente de Inteligência Artificial & Analytics do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Denis Bruno Viríssimo, entretanto, alerta que, como toda tecnologia, o gêmeo digital não é uma ‘bala de prata’, que vai solucionar todos os problemas, tampouco é uma ferramenta única e precisa ser implementada com uma modelagem específica para cada empresa e aplicação. “Cada caso é um caso. A ferramenta é inserida num contexto de vários componentes tecnológicos, processos e pessoas e seu uso deve ser muito bem pensado estrategicamente, para que seja utilizada onde tem potencial. Do contrário, pode até ser mal aproveitada, um gasto inútil”, alerta.
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