Matéria-prima cara e escassa. E agora? - Revista Anamaco

Cenário Econômico

Matéria-prima cara e escassa. E agora?

Texto: Redação Revista Anamaco 

Passado o impacto inicial da pandemia, as indústrias de material de construção se adequaram à nova realidade, cresceram em 2020 e, com a vacinação em curso e a volta dos consumidores às lojas, o cenário indicava uma retomada ainda mais consistente do segmento. Entretanto, um problema, que já rondava a atividade industrial, volta a assombrar: a falta de matéria-prima (resina), com o consequente aumento nos custos para os fornecedores do mercado brasileiro.
Nos bastidores, o descontentamento e a preocupação com o cenário externo são evidentes. Durante esta semana, fontes, que pediram para não ser identificadas, compartilharam, com a Redação da Revista Anamaco, correspondências dirigidas aos lojistas de material de construção, em que algumas indústrias do setor expõem a situação, comunicam a suspensão da venda de produtos de PVC por conta do aumento do preço da matéria-prima e alertam que, possivelmente, será necessário repassar os preços aos revendedores. Esses são apenas alguns exemplos do que está acontecendo nesse mercado.
Diante disso, a Redação entrou em contato com alguns fabricantes de conexões e tubos de PVC, mas a maioria optou por não se posicionar sobre o tema e sobre os impactos que o aumento e a escassez de resina podem gerar nos negócios e no abastecimento ao varejo.
José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), explica que, em meio à recuperação do setor, iniciou-se um acentuado desequilíbrio de oferta de matérias-primas plásticas no mundo. Por isso, os preços dos insumos variaram e têm oscilado de forma muito brusca.
O executivo observa que há dificuldade para encontrar matérias-primas de polietileno (PE), polipropeno (PP) e PVC no mercado doméstico e internacional. “O cenário global é de oferta mais restrita de resinas, o que impacta, diretamente, nos preços desse material”, ressalta.
Coelho lembra que existe um desbalanceamento entre oferta e demanda de resinas em nível global. Segundo ele, algumas atividades registraram recuperação no período de pandemia enquanto outras foram parcialmente ou totalmente suspensas - o que prejudicou a previsibilidade de toda a cadeia. “Ainda recebemos informações de dificuldades de entregas de material, notadamente polipropileno, e altos preços”, lamenta.
O executivo garante que a Abiplast tem tentado sensibilizar o governo quanto aos impactos no acesso às matérias-primas a preços competitivos. Ele comenta que, por aqui, o imposto sobre importações de resinas é um dos mais altos do mundo: 14% no Brasil, contra uma média de 6,5% nos países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aliado a antidumping (prática de exportar um produto a preço inferior ao realizado no mercado interno do país exportador) contra PP e PVC, que podem chegar até 18%. “Em dezembro, houve uma redução temporária da alíquota do imposto de importação de PVC, de 14% para 4% e para uma cota de 160 mil toneladas por três meses, medida renovada, em março deste ano, por mais três meses”, revela.
Paralelamente, em conjunto com várias associações consumidoras de PP, a Abiplast solicitou redução de alíquota de importação para propileno. Aceita em março, as entidades conseguiram redução de 14% para 0%, válida por três meses, para importação de uma cota de 77 mil toneladas de resinas nesse período. “Mesmo com essas medidas temporárias, reforçamos que há um entrave estrutural, sobre o qual alertamos há muito tempo: monopólio com mercado fechado/protegido, instrumentos de defesa comercial usados inver-samente com a lógica da geração de valor e a falta de investimentos locais para ampliação de capacidade, já que são feitos somente no exterior (sobretudo em países com medidas antidumping)”, observa Coelho.

O reflexo na indústria do setor 

Apesar dos esforços, por aqui, os fabricantes começam a sentir os impactos desses fatores externos. O problema, em maior ou menor grau, atinge as indústrias do segmento de material de construção, que buscam alternativas para minimizar os reflexos aos lojistas e ao consumidor final.
Daniel Neves, diretor-Geral da Wavin no Brasil, comenta que, considerando que no segmento da construção, especificamente, a resina de PVC é a base da fabricação de tubos e conexões, a escassez mundial de insumos plásticos em razão da alta demanda e a problemas de força maior nos Estados Unidos - inverno rigoroso e o furacão Ida - que afetaram a produção mundial fizeram com que os custos de produção aumentassem. “Nós conseguimos que apenas parte desses custos fosse repassada aos clientes e consumidores, sendo que absorvemos outra parte”, garante.
O executivo ressalta que a empresa segue em busca de alternativas para minimizar os impactos que possam vir a ocorrer nos custos dos produtos nos próximos meses. Neves observa que, mesmo diante do alto custo e escassez da matéria-prima, que não deve ser resolvida tão cedo, a alta do dólar e a leve alta da Selic, que podem reduzir um pouco o poder de compra, a Wavin ainda enxerga, no momento, um cenário positivo. “Nós  temos condição favorável porque muitos dos nossos contratos são de longo prazo, o que nos permite atender aos clientes de forma satisfatória, tanto construtoras como distribuidores", observa o diretor. 

Foto: Adobe Stock 

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