Encontro Acomac Ceará

Perspectivas da economia brasileira

Texto: Redação Revista Anamaco

O segundo dia de conteúdo do 2º Encontro Acomac Ceará, realizado entre os dias 13 e 16 de junho no Hotel Vila Galé Cumbuco, em Caucaia (CE), nas proximidades de Fortaleza, foi aberto com o Painel de Líderes - Varejo, Atacado e Indústria, que contou com a participação de Lilian Lessa, diretora da King Ouro (RJ); Mauro Saccomani,  diretor Executivo do Grupo Construbrasil; Wesley Assis, gerente Regional do Grupo Saint-Gobain; Marcos Atchabahian, sócio da Village Home Center (SP) e presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco); e André Montenegro, presidente do Sindicato das Construtoras e vice presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que falaram sobre o tema do evento: “Gestão, construindo resultados”.
Sobre esse tema, Montenegro destacou que a crise mexeu com as empresas, que nunca mais serão as mesmas e tiveram que se reinventar. Segundo ele, as empresas estão preparadas para o crescimento e com projetos para lançar assim que houver sinal de aquecimento. “Em São Paulo, o mercado está mais otimista. Vamos nos preparar com pujança no segundo semestre”, disse.
Atchabahian, por sua vez, destacou que a resiliência é a palavra chave na vida dos empreendedores. O executivo reforçou que vivemos num País hostil com o capital privado e que os empresários brasileiros são corajosos e vitoriosos. “Tenho 40 anos de experiência no varejo e não vivi nenhum ano fácil”, lembrou.
Na sua percepção, um novo governo com Congresso renovado, mas também com antigos políticos experientes atuando faz com que se veja um choque de ondas e o que sair desse choque é o que vai definir o que será o Brasil daqui para a frente. “Passamos o primeiro semestre e o País ainda não andou. Estamos aguardando a Reforma da Previdência para o governo organizar as contas e esperamos a simplificação da Reforma Tributária”, reforçou.
Na sequência, Lilian reforçou que empresário nasce resiliente porque, no Brasil, se não tiver essa característica não é possível empreender. “Estou otimista com o mercado. É preciso fazer essa arrumação da casa. A Reforma da Previdência é necessária para nos tornar um país gigante. Tem muita gente querendo investir no Brasil”, opinou, acrescentando que a responsabilidade do empresário é cuidar muito bem do seu negócio nesses momentos difíceis que passamos. “Não existe crise na nossa empresa. Aprendemos a focar no negócio e ir atrás das oportunidades. Nosso modo de trabalhar sempre deu certo”, ressaltou.
Saccomani, por sua vez, disse que alguns dados econômicos são animadores e mostram que os empresários estão otimistas e acreditando na retomada.
Para finalizar, Assis destacou que a gestão nunca deve ser esquecida e que, no momento de ajustes, o Grupo Saint-Gobain tem trabalhado ainda mais próximo aos parceiros. “Temos tentado trabalhar a gestão da indústria junto com o varejo, mostrando as rentabilidades para não perder a mão no mercado. Esse é o momento de reunir forças para entender e ajudar no dia a dia das empresas. Tentamos trabalhar diferente e com inovação”, explicou.

                                            

Perspectivas da economia brasileira

Após o painel, Mailson da Nóbrega, economista e ex-ministro da Fazenda, fez a palestra “Perspectivas da economia brasileira”. O palestrante começou sua apresentação lembrando o momento difícil que a economia brasileira enfrenta, com o ano começando muito fraco. Na sua percepção, houve excesso de otimismo com o novo governo e havia previsão de crescimento econômico de 2,5% para 2019. Os mais conservadores previam 2%, mas, há dez semanas consecutivas, a Pesquisa Focus do Banco Central sinaliza queda de estimativa de evolução do Produto Interno Bruto (PIB). “Nós que acreditávamos em 2% revimos para 0,9%, mas há quem ache que fique perto de zero”, explicou.
Vários fatores explicam esse pessimismo: fatores externos, por exemplo, como a desaceleração da economia mundial. Segundo ele, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculava que a economia mundial iria crescer, este ano, 3,6%. Tanto ele quanto o Banco Mundial estão revendo essa expectativa para 3%. Há, ainda, a crise na Argentina, o segundo maior mercado de produtos manufaturados do Brasil. E dois produtos são fundamentais no comércio com a Argentina: veículos e bens de capital. Aquele país chegou a representar 80% da importação de veículos brasileiros e hoje esse número está entre 30% e 40%.
Além dos fatores externos, há outros de natureza doméstica, como as incertezas políticas sobre a Reforma da Previdência. “Se a Reforma não sair, teremos uma catástrofe e levará o Brasil a voltar a ter inflação alta e sem controle. Há quem diga que se isso acontecer, o Brasil começa a dar adeus a seu sonho de ser um país viável e rico”, garantiu o economista.
Nesse cenário, o segmento da construção civil e comércio de material de construção também sofreram. E eles sentiram o reflexo de três causas de queda de demanda. A primeira delas foi o desemprego, que gera menor renda e, por consequência, desestimulam a compra da casa própria. Em segundo lugar, a limitação dos financiamentos habitacionais porque caiu a captação de caderneta de poupança. Por fim, a crise fiscal, que diminuiu os investimentos no Programa Minha Casa Minha Vida. “No meio disso tudo, aumentaram os distratos, que levam a um aumento de estoque e aumento da oferta Com maior oferta e menor demanda, o resultado é a queda no preço dos imóveis. Tudo isso foi uma conspiração terrível que afetou o mercado da construção”, observou.
Apesar de todos os contras, Nóbrega citou como pontos positivos, a inflação sob controle; a taxa Selic em patamares historicamente baixos, o que significa aumento do potencial de oferta e tomada de financiamentos para casa própria e construção; balanço de pagamentos em ordem, o que significa que não há risco de uma crise cambial.
O palestrante ressaltou que, 2019, será um ano decisivo para criar condições para o crescimento melhor a partir de 2020. E dois aspectos são fundamentais para isso: a Reforma da Previdência, que vai tirar da nuvem de incerteza que deriva do medo dela fracassar. Segundo ele, há muitos investimentos esperando o resultado da votação da Reforma. “Quem está esperando para comprar um imóvel ou um automóvel vai esperar mais um pouco. Aprovada a Reforma, isso destrava e tudo indica que começa um novo ciclo de crescimento. Nada fantástico, mas não será essa mediocridade que vivemos”, destacou.
Para todos os efeitos, na sua avaliação, 2019 está quase perdido. Ele acredita que deverá haver uma leve aceleração no segundo semestre, mas nada muito importante e que leve a uma grande expansão da atividade econômica.
O economista reforçou que o governo do presidente Jair Bolsonaro tem muitos desafios, mas também tem sorte. Nóbrega destacou que são três desafios sem os quais a gestão não dará certo: evitar a insolvência fiscal. Segundo ele, esse é o grande drama do Brasil porque desde 1988, com aposentadorias indiscriminadas, gastos sociais e aumento permanente do salário mínimo há aumentos dos gastos previdenciários. “O certo seria ter um piso previdenciário e não um salário mínimo para todos”, opinou.
Segundo ele, em 1987, o Brasil gastava 4% do PIB em Previdência Social, compreendendo INSS e os regimes previdenciários do setor público Federal, Estadual e Municipal. Em 30 anos, esse percentual saltou para 14%. A Previdência consumia 30% das receitas federais e consome, agora, 60%. “Se nada for feito, em 2050, vai consumir 100%. Tudo que arrecadar será para a finalidade de pagar pensão e aposentadoria”, alertou.
A consequência mais dramática desse processo é que o Brasil, que possui uma população de idosos de apenas 10% do total de habitantes, tem um gasto previdenciário proporcional ao do Japão, que tem 30% de idosos.
Outro ponto destacado por Nóbrega é a insolvência dos Estados, ou seja, não podem pagar salários. A principal fonte desse problema é a previdência social, que está muito pior do que no Governo Federal. “Muitos Estados vão deixar de pagar os salários dos servidores, o que afeta o comércio, a indústria, a expectativa e a esperança das pessoas”, reforçou.
O palestrante explicou que os Estados são os provedores de três serviços essenciais: segurança, saúde e educação. Se houver um colapso desses serviços, com aumento da criminalidade, da pobreza e da desesperança, isso chega ao Governo Federal.

Coalizão é a realidade de todos os sistemas multipartidários em que a legenda do presidente não é a maioria. Essa é uma forma de compartilhar o poder com os partidos da oposição


Nóbrega frisou que o que faz uma economia crescer de verdade é a produtividade. Dessa forma, o terceiro desafio do governo é restaurar a produtividade, que está estagnada no País. Segundo ele, entre os anos de 1950 e 1980, ela cresceu 4,2% ao ano, o que explica o forte crescimento do Brasil nesse período. De 1980 para cá, caiu para 0,6% anuais e está estagnada nos últimos três anos.
E para aumentar a produtividade, Nóbrega listou quatro aspectos que empurram o empresário para ser mais eficiente. Reforma Tributária para simplificar o caos que temos. Uma das maneiras sugeridas pelo palestrante é extinguir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que, na sua análise, é a principal causa da bagunça do sistema tributário no País, e substitui-lo por um imposto mais racional. “Ele muda 70 vezes por semana em todo o País. Quem opera em mais de um Estado não consegue acompanhar”, justificou.
Outro ponto a ser melhorado é a infraestrutura, já que o Brasil não investiu e deteriorou essa área. Segundo ele, a Previdência Social reduziu a capacidade do governo de investir. O economista comentou que, em 1975, o Brasil investia 10,5% do PIB em infraestrutura. Percentual que foi de pouco mais de 1% em 2018. “Não é à toa que as estradas estão deterioradas. Custa mais transportar soja do Mato Grosso para Santos do que de lá para a China”, revelou.
Terceiro fator é a abertura econômica para o empresário enfrentar a concorrência, o que o força a ser mais eficiente. O quarto aspecto é a educação, mas esse é um processo longo. Ele lembrou que a mão de obra mais preparada é mais produtiva.
Segundo ele, são muitos desafios, mas o vento está a favor. Na sua análise, o presidente Bolsonaro, embora não reconheça, recebeu uma boa herança do governo Michel Temer, como o estabelecimento do teto de gastos, que deu uma freada no crescimento dos gastos previdenciários; a Reforma Trabalhista, que deverá ter reflexos na produtividade, no emprego e já diminuiu o número de ações trabalhistas na justiça; ampliou o debate acerca de Reforma da Previdência; recuperou a imagem do Banco Central; deixou a inflação sob controle; Taxa Selic baixa; balanço de pagamentos em posição tranquila e o fim da recessão provocada pelo governo da Dilma Rousseff. “Tudo isso foi vantagem para o Bolsonaro. Além disso, ele não precisou pensar no seu principal desafio porque pegou uma Reforma pronta”, destacou.

Não podemos desistir do Brasil


Os ventos contra também existem, como os riscos da disputa comercial com a China e Estados Unidos; e um governo mal articulado porque o presidente Bolsonaro colocou na cabeça dele que coalizão é corrupção. “Coalizão é a realidade de todos os sistemas multipartidários em que a legenda do presidente não é a maioria. Essa é uma forma de compartilhar o poder com os partidos da oposição, que se comprometem a apoiar o programa de governo”, reforçou o economista.
Nóbrega colocou em xeque a capacidade de liderança e de estabelecer prioridades do presidente Bolsonaro. A urgência, destacou, é a Previdência porque se ela não passar o governo dele acaba, assim como o Brasil. “E com o que ele se preocupa? Em dispensar de multa quem não coloca cadeirinha para crianças nos carros, com radares e porte de armas. Ele demonstra não ter essa capacidade, mas felizmente outros da equipe do governo têm”, frisou.
Voltando às projeções econômicas, o palestrante acredita que, em 2019, o PIB deverá crescer 0,9%, com inflação de 4%, e 2,6% de alta do PIB em 2020, com inflação também de cerca de 4%. Já o número de desempregados deverá ser de cerca de 12 milhões, a taxa Selic deverá chegar a 5,75% no ano que vem e o dólar chegar a 3,80 em 2020.  
Nóbrega lembrou que a democracia está consolidada no Brasil, a imprensa é livre, o sistema judiciário e Ministério Público são independentes, o voto é um direito de todos os brasileiros acima de 16 anos, o povo não apoia e não tolera mais a corrupção, temos um Estado forte e um Estado de direito e o governo está sob controle, o que é uma caraterística de um país maduro. “O governo é previsível e não faz maluquices porque se fizer, sai”, explicou.
Apesar dos problemas do País, Nóbrega concluiu sua apresentação com uma frase de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambuco. “Não podemos desistir do Brasil”, finalizou.
Na parte da tarde, aconteceram novas rodadas de negócios com os patrocinadores e o tempo livre também foi de lazer para os participantes.

           

Fotos: Grau 10 Editora

Perspectivas da economia brasileira
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