Endividamento e inadimplência

Pesquisa indica que 71,37 milhões de brasileiros estavam negativados em julho

Texto: Redação Revista Anamaco

O cenário da inadimplência no Brasil continua a se agravar, com o País registrando um aumento no ritmo de crescimento anual de devedores e dívidas. Em julho, o Indicador de Inadimplência de Pessoas Físicas, apurado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), estimava que 71,37 milhões de brasileiros estavam com o nome negativado, representando 42,91% da população adulta do Brasil.
No mês, a variação anual foi de 7,98% no número de inadimplentes em relação a julho de 2024. Na passagem de junho para julho, o número de devedores cresceu 0,23%.
José César da Costa, presidente da CNDL, destaca que, ainda que a variação mensal tenha mostrado desaceleração, o ritmo de crescimento anual da inadimplência se intensificou em julho, o que é um sinal de alerta. “Isso significa que, apesar de algumas variações pontuais, o cenário de endividamento dos brasileiros continua complexo, com mais pessoas entrando para a lista de devedores ao longo do último ano”, lamenta.
Na sua análise, a alta persistente dos juros e a inflação ainda impactam o custo de vida e a dificuldade de acesso a crédito seguem corroendo o poder de compra e a capacidade de honrar compromissos. “O desafio não é só limpar o nome, mas romper com o ciclo da inadimplência crônica, o que exige mais do que acordos pontuais - requer planejamento, acesso a renegociações justas, educação financeira e ações do mercado e do Estado para evitar o endividamento constante e repetido", frisa.
A análise detalhada dos dados de julho revela que o crescimento do indicador anual de devedores se concentrou no aumento de inclusões de consumidores com tempo de inadimplência de três a quatro anos, com uma variação de 44,32%.
Embora ligeiramente menor do que os 46,54% observados em junho para esse grupo, o dado reafirma a dificuldade de quitação de dívidas de longo prazo. O tempo médio de atraso das dívidas no Brasil atingiu 28,3 meses (aproximadamente 2,4 anos) em julho, um leve aumento em relação aos 28,1 meses de junho.
Em relação à faixa etária, o estudo revela que o grupo de 30 a 39 anos manteve a maior participação no total de devedores em julho, com 23,67%. São 17,62 milhões de pessoas nesta faixa etária registrada em cadastro de devedores. Tal montante equivale a 51,93% da população nesta faixa etária.
Já a distribuição por sexo permanece estável, com 51,13% de mulheres e 48,87% de homens entre os devedores, com a idade média dos inadimplentes permanecendo em 44,8 anos.
Outro dado apurado pelo estudo mostra que, em julho, cada consumidor negativado devia, em média, R$ 4.777,28 na soma de todas as suas dívidas. Cada inadimplente possuía, em média, dívidas com 2,21 empresas credoras, mantendo a média de junho.
A distribuição das dívidas por valor mostra que quase três em cada dez consumidores (30,21%) tinham dívidas de até R$ 500. Esse percentual atinge 43,42% quando consideradas dívidas de até R$ 1.000, indicando que grande parte da inadimplência ainda se concentra em valores menores.
Nesse cenário, o número de dívidas em atraso no Brasil também registrou um crescimento expressivo em julho, com aumento de 13,81% em relação ao mesmo período de 2024. Na comparação mensal (junho para julho), o número de dívidas em atraso subiu 0,31%.
Ao analisar a evolução por setor credor, o segmento de Bancos continuou a se destacar, com o maior crescimento no número de dívidas em atraso, registrando um aumento de 17,01% na comparação anual de julho. Os setores de Água e Luz (9,97%) e Comunicação (3,68%) também apresentaram crescimento. Em contrapartida, as dívidas com o setor de Comércio (0,24%) apresentaram uma leve queda no total de dívidas em atraso, em linha com a tendência de junho (0,22%).
Em termos de participação no total de dívidas, o setor bancário segue predominante, com 66,65% do total, reiterando a forte influência das operações de crédito financeiro na inadimplência. Água e Luz aparece na sequência com 9,95%, seguido pelo Comércio com 9,43% e Outros com 8,23%.
O levantamento também mostra que o Centro-Oeste apresentou a alta mais expressiva no número de inadimplentes na comparação anual em julho, com crescimento de 9,82%. Em termos de percentual da população adulta, a região também lidera, com 46,55% de seus habitantes incluídos em cadastros de devedores, consolidando-se como a Região com a maior proporção de negativados. As demais regiões seguiram com aumentos anuais significativos: Sudeste (7,23%), Norte (6,42%), Nordeste (6,21%) e Sul (4,45%).
Roque Pellizzaro Júnior, presidente do SPC Brasil, observa que os dados mostram que o número de dívidas cresceu em um ritmo superior ao crescimento no número de inadimplentes. “Isso significa que as pessoas não apenas continuam devendo, como estão acumulando novas dívidas, criando um ciclo de endividamento contínuo”, alerta.

Foto: Adobe Stock

Pesquisa indica que 71,37 milhões de brasileiros estavam negativados em julho
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