Prata que vale ouro
Reportagem: Ariane Guerreiro/Grau 10 Editora
Consumidores da chamada ‘economia prateada’ chegam aos 60 anos mais ativos, interessados, com vontade e recursos para investir em qualidade de vida, o que significa mais diversão, vida social e melhor moradia. Independência, autonomia, qualidade de vida são alguns dos aspectos cada vez mais relacionados a esta faixa etária, que empreende, investe e consome. Apesar desse cenário, os exemplos de estratégias, iniciativas e ações voltadas a esta faixa ainda são poucos no setor de material de construção, muitas vezes limitadas à acessibilidade
A sociedade brasileira está mudando e completar 60 anos de idade já não é sinônimo de inutilidade ou hora de esperar o fim da vida chegar. Mais ativas, as pessoas que chegam à chamada terceira idade estão em busca de aproveitar melhor o que o mundo pode oferecer, fazer o que têm vontade e - por que não? - ter conforto e morar melhor. Perceber todas as mudanças que estão ocorrendo e que ainda ocorrerão, acredite, é fundamental para seu negócio.
O último Censo Demográfico, iniciado em 2022 e que apresenta os primeiros resultados, mostrou que o Brasil ruma à virada da pirâmide etária. A população brasileira está mais madura, fato que não apenas altera o rumo das políticas públicas, como muda as perspectivas de produção, consumo e prestação de serviços.
O levantamento indica que 14,7% dos brasileiros possuem 60 anos ou mais. Em dez anos, houve um aumento de 39,8% na faixa chamada 60+ em números absolutos, o que corresponde a 31,2 milhões de pessoas. A expectativa de vida, atualmente, chega a 77 anos em média, sendo 73,6 anos para homens e 80,5 anos para mulheres, que consomem, passeiam, moram e ajudam seus familiares financeiramente.
De acordo com dados levantados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas, em 2021, 91% dos brasileiros com mais de 60 anos contribuíam financeiramente para o sustento da casa, sendo que 52% eram os principais responsáveis. Vale lembrar que muitos, já aposentados, possuem renda complementar, seja oriunda de previdência privada, emprego, empreendedorismo ou outras fontes.
Mais ativas, com mais qualidade de vida, essas pessoas buscam aproveitar melhor uma fase em que já não precisam se preparar para o futuro, mas viver o presente. Muitos possuem patrimônio formado, filhos crescidos e estão mais seguros para consumir. É cada vez maior a parcela das pessoas com mais de 60 anos que buscam valorização, espaço e direitos e que podem se dar uma vida melhor e mais prazerosa nessa etapa, sem deixar de assistir a suas famílias.
Na análise do professor e coordenador do Núcleo de Varejo e Retail Lab da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Ricardo Pastore, este é um fenômeno mundial e o envelhecimento da população abre perspectivas para mudanças importantes no consumo. “São mudanças graduais e orgânicas, não disruptivas. É um processo, então dá tempo de as empresas, indústrias e comércio se preparem para isso”, afirma.
São pessoas que se divertem, passeiam, têm vida cultural, relações sociais, praticam atividades físicas e cuidam da saúde, bem longe de serem representados pela imagem do idoso curvado e usuário de bengala, que tende a corresponder apenas à menor parte dessa população. Esta é, inclusive, uma nova visão que a sociedade tem de construir.
Há exemplos assim em todas as faixas econômicas de consumo. São pessoas que se programam para obterem mais conforto. Dados da pesquisa Longeratividade, do Instituto Locomotiva, realizada em 2020 sobre o mercado 50+, indicam que os rendimentos dessa parcela da população correspondiam a cerca de 42% do rendimento do País.
De acordo com a pesquisa, 32% desejam comprar novos móveis, 12% um novo celular, 12% querem outra televisão e 11% uma geladeira ou notebook. E o melhor: 24% afirmam querer reformar a casa. O comércio eletrônico também ganha novos consumidores dessa faixa etária. Muitos já estão conectados e outros tantos aprendendo a usar os meios digitais, seja para se comunicarem ou para fazerem suas compras. A hora é de voltar o olhar a um nicho que só tende a crescer.
O especialista em Inovação e Tendências, Arthur Igreja, define o potencial desse segmento de consumo como gigante e fantástico. “O desafio de um negócio é justamente encontrar um mercado potencial crescente e é exatamente o caso. A demografia mostra que é um mercado que vai crescer”, observa. Na sua avaliação, é um público que, em muitos casos, tem um poder aquisitivo estabelecido, ao contrário, por exemplo, de um consumidor extremamente jovem.
Alguns setores, segundo Igreja, já se deram conta da mudança demográfica, como o de vestuário, bens de consumo e até mesmo tecnologia, com marcas que vêm focando a comunicação e seus produtos a essa fatia do mercado, e outros não fazem quase nada a esse nicho.
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Conhecer para satisfazer
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, ligada à Organização das Nações Unidas, até 2030 o Brasil deverá ter mais idosos do que crianças e jovens com menos de 15 anos. O dado demonstra a necessidade de se combater o preconceito contra um grupo de pessoas que só tende a crescer e está longe de se encaixar no papel de ‘coitado’. Quantos de nós não convivemos com os ‘novos idosos’ dentro de casa, produtivos e com desejos a serem realizados?
Estudo da Fundação Getulio Vargas, divulgado em 2020, indica que os idosos são 17,44% dos 5% mais ricos e 1,67% dos mais pobres do País. Essa faixa etária corresponde a 15,54% das classes A e B, a 13,07% da classe C, a 4,71% na classe D e a 1,4% da E. Do total, 59,64% são aposentados pela Previdência Social, 40,78% recebem benefícios de Prestação Continuada (BPC) e 0,89% participam de programas como o Bolsa Família.
Independência, autonomia, qualidade de vida são alguns dos aspectos cada vez mais relacionados a esta faixa etária, que empreende, investe e consome. Fenômeno mundial, o envelhecimento da população já é bem trabalhado em países da Europa, principalmente, e Japão, onde essa tendência é uma realidade há bastante tempo.
Mudanças, no entanto, geram oportunidades. “Redes de lojas, mesmo em posições mais baixas no ranking, podem identificar oportunidades nesses momentos e criar pontos de inflexão, saindo à frente e criando uma nova imagem, atraindo os consumidores que vão entrando nesse perfil”, destaca Pastore. Segundo ele, as oportunidades têm de ser consideradas do ponto de vista do desenvolvimento estratégico. “Cabe às empresas colocarem isso no radar, tratar estrategicamente e ir fazendo escolhas e apostas. Quem acertar vai ganhar uma fatia importante do mercado”, alerta.
Pouco a pouco, a economia ‘prateada’ vem mostrando sua força e facilitar o acesso dessas pessoas ao consumo é aumentar a chance de vender mais. Adotar medidas simples dentro da loja e na comunicação com esses clientes, com base em informações consistentes sobre o que pensa, busca, como se comporta e com o que se preocupa esse grupo populacional é ter um olhar diferenciado, não apenas sobre tais consumidores, como sobre o próprio negócio.
Essa visão, no entanto, ainda é pouco difundida no varejo brasileiro. O setor de farmácias está entre os mais adiantados, profissionalizados e orientados, até mesmo em função de sua natureza, com produtos e serviços mais pensados nesse público, observando maior qualidade de vida, cuidados e saúde.
Os demais ainda estão em processo de aperfeiçoamento, inclusive o de material de construção...
Continua ...
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