Endividamento e inadimplência

Proporção de devedores reincidentes segue em patamares elevados, aponta estudo

Texto: Redação Revista Anamaco

O cenário da inadimplência no Brasil continua a ser marcado pela alta persistência e por uma crescente dificuldade na recuperação de crédito, segundo o levantamento Recuperação de Crédito e Reincidência Pessoa Física da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito).
Em junho, a proporção de devedores reincidentes manteve-se em patamares elevados, enquanto o indicador de recuperação de crédito registrou desaceleração ainda mais acentuada.
Os dados do mês revelam que, do total de consumidores incluídos nos cadastros de inadimplentes, 83,81% já eram devedores reincidentes, ou seja, já haviam aparecido nas listas de inadimplentes nos últimos 12 meses. Esse percentual é ligeiramente superior aos 83,48% observados em maio, confirmando a constância e a gravidade desse fenômeno.
Dentro do universo de reincidentes de junho, a maior parte, 62,30%, ainda não havia quitado dívidas antigas. Uma parcela de 21,51% conseguiu sair do cadastro nos últimos 12 meses, mas retornou à condição de negativado. Apenas 16,19% dos negativados em junho não possuíam restrições no CPF nos últimos 12 meses, não sendo considerados reincidentes.
Na análise das entidades, um dado preocupante é o tempo médio para que a reincidência ocorra: em junho, o intervalo entre o vencimento de uma dívida e o vencimento de uma nova pendência foi de 72,8 dias, o que equivale a, aproximadamente, 2,4 meses.
José César da Costa, presidente da CNDL, frisa que o Brasil vive um momento delicado, onde a inadimplência se tornou um fenômeno cíclico e sistêmico. Segundo ele, os dados de maio e a persistência da alta reincidência são um indicativo claro de que as famílias brasileiras estão presas em uma armadilha de endividamento. “Juros elevados, inflação que ainda corrói o poder de compra e um cenário macroeconômico desafiador se combinam para criar um ambiente onde quitar uma dívida muitas vezes significa contrair outra, em condições ainda mais desfavoráveis. É fundamental que haja uma articulação mais robusta entre todos os agentes econômicos para evitar a exclusão financeira de milhões de brasileiros, buscando soluções que permitam uma recuperação sustentável e duradoura da saúde financeira das famílias”, pontua.
Os dados do indicador mostram que, nos últimos 12 meses encerrados em junho, houve um crescimento de 1,31% no número de devedores reincidentes, aqueles que já tinham aparecido no cadastro de inadimplentes no período analisado. A comparação é com os 12 meses anteriores.
Em paralelo à alta reincidência, o indicador de recuperação de crédito, que monitora o número de consumidores que conseguiram sair dos cadastros de inadimplentes, registrou uma queda ainda mais acentuada. Nos 12 meses encerrados em junho de 2025, houve uma redução de 12,57% no número de consumidores que quitaram suas dívidas e limparam o nome, em comparação com os 12 meses anteriores.
A queda do indicador acumulado em 12 meses se concentrou na diminuição da recuperação de consumidores que levaram de quatro a cinco anos (-17,80%) para efetuarem o pagamento de todas suas dívidas.
Roque Pellizzaro Júnior, presidente do SPC Brasil,  explica que os números de junho não apenas solidificam a visão de um cenário de inadimplência desafiador, mas também destacam a dificuldade persistente para os consumidores brasileiros se reerguerem financeiramente. “A alta taxa de reincidência e a desaceleração na recuperação de crédito apontam para a necessidade urgente de políticas públicas e iniciativas privadas que facilitem a quitação das dívidas e promovam a educação financeira e o consumo consciente, prevenindo que o ciclo de endividamento se perpetue. A situação demanda atenção contínua de formuladores de políticas, instituições financeiras e da própria sociedade para mitigar os impactos dessa exclusão financeira”, destaca.

Foto: Adobe Stock

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