Impacto da greve dos caminhoneiros

Quinto dia e a paralisação continua

14h50 - Governo aciona forças federais para tentar acabar com a greve  - Diante do impasse que tomou conta das negociações entre o governo e os caminhoneiros, o presidente Michel Temer acaba de fazer um pronunciamento no Palácio do Planalto. Segundo ele, antes da greve “estourar”, ainda no domingo o governo começou a tomar providências para atender às demandas da categoria, que luta pela redução no preço do óleo diesel.
Segundo ele, ontem havia sido fechado um acordo com as lideranças nacionais representativas dos caminhoneiros, que pediram, entre outras coisas, redução e estabilidade no preço do diesel. Diante disso, Temer disse que a União vai ressarcir a Petrobras para garantir a redução de 10% no preço final do produto. “Nós acordamos estabilidade no preço a cada 30 dias, garantindo previsibilidade nos custos dos caminhoneiros”, declarou.
Na percepção do presidente, o governo atendeu às reivindicações prioritárias e os caminhoneiros se comprometeram a encerrar a paralisação. Temer acredita que a continuidade da greve dá-se por conta de uma minoria radical. Com isso, anunciou que o governo vai implementar, de imediato, um plano de segurança para superar os efeitos do desabastecimento causado pela paralisação. “Acionei as forças federais de segurança para desbloquear as estradas e estou solicitando aos governadores que façam o mesmo. Vamos garantir a circulação e o abastecimento. O acordo está assinado e cumpri-lo é a melhor alternativa”, disse.
Enquanto a questão não se resolve, o quinto dia de paralisação dos caminhoneiros vai se desenrolando com o bloqueio de diversas rodovias estaduais e federais em todo o País afetando o abastecimento de produtos em diversos setores. A sexta-feira começou com falta de combustível, congestionamentos, transporte público tumultuado e desabastecimento. Ou seja, se houve acordo, ele ainda não surtiu efeito. 
Algumas lideranças do movimento afirmam que não concordam com os termos do acordo, que não existe legitimidade no acordo pois a manifestação não é de um sindicato e sim de caminhoneiros autônomos e o impasse está instalado. Enquanto isso, no setor de material de construção as opiniões se dividem. Boa parte dos lojistas apoia as reivindicações publicamente. Há, inclusive, quem anuncie em redes sociais que aderiu à greve e estará de portas fechadas nesta sexta-feira. Outros, que representam a maioria, apoiam o movimento, mas defendem uma solução para o caos que se instala no País.
Hoje, mais uma indústria de material de construção - a Rejunte Fácil - comunicou aos clientes sobre a impossibilidade de cumprir alguns prazos de entrega de mercadorias. E alguns atacadistas também informam que estão com páteos cheios, caminhões carregados, mercadoria faturada, mas tudo aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Mas, nem por isso, repudiam o movimento grevista.

Tentativa de colocar fim à paralisação

Ontem a noite, o Governo Federal e os sindicatos dos caminhoneiros selaram um acordo prometendo uma trégua de 15 dias nos protestos. Entre outros coisas, o Governo Federal garantiu que a redução de 10% no preço do diesel, que a Petrobras já havia anunciado valendo para 15 dias, será estendida para 30 dias, sendo que os cofres públicos arcarão com a diferença do acréscimo de mais 15 dias. Outra promessa feita aos grevistas é de que, de agora em diante, o preço do diesel será modificado apenas uma vez ao mês, sendo que essa perda, que poderá ser acarretada à Petrobras, também será de responsabilidade do Governo.
Os efeitos da greve são sentidos no varejo de material de construção de forma mais acentuada. Como publicado na quarta-feira - terceiro dia de greve - aqui no Portal da Revista Anamaco On Line - a Votorantim Cimentos foi a primeira indústria a informar que estava tendo dificuldades para distribuir seus produtos em boa parte do País desde segunda feira (21 de maio), quando as interdições das estradas começaram.  Ontem, foi a vez da Weber Saint-Gobain emitir um comunicado informando que, devido aos bloqueios dos principais acessos e rodovias, é possível que haja atraso nas entregas dos produtos que fabrica.
Como o cimento é considerado um produto de alto giro nas lojas de material de construção, o primeiro impacto para o setor foi a falta desse produto.  Antenor Novakoski, presidente da Federação das Associações dos Comerciantes de Material de Construção de Santa Catarina (Fecomac-SC), lembra que as revendas do setor têm por rotina receber cimento quase que diariamente. Dessa forma, essa foi a primeira baixa sentida no segmento.
Ontem a tarde, de acordo com Novakoski, além do cimento, lojistas de Santa Catarina já estavam sofrendo com a falta de ferro e material básico, como areia. “Não são apenas as pequenas empresas da nossa região que estão desabastecidas. Os home centers também já foram afetados”, reforça.
Novakoski conta, ainda, que algumas indústrias de tintas, PVC e cerâmica cancelaram as entregas. “O clima está tenso porque além de não termos alguns produtos, a greve deverá afetar as vendas das demais linhas. Aqui no Estado o clima é de feriado”, lamentou o líder local.
Apesar dos transtornos causados, o movimento está recebendo apoio popular - há diversas campanhas nas redes sociais em favor da categoria – e também de entidades de classe. A Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), por exemplo, em nota, destacou que a entidade representa um setor que movimenta, nacionalmente, uma frota de 100 mil caminhões e abastece, todos os dias, mais de 5.570 municípios e que o efeito do diesel nos custos das empresas do setores é grande e já tem pressionado o preço dos produtos nas gôndolas e que analisando sob esse aspecto, a mobilização é legítima. Por outro lado, entende que o recurso da greve, nos moldes em que ocorre, trouxe e tem potencial para ocasionar mais prejuízos para a sociedade.

O dia a dia da greve

Já no terceiro dia de protestos dos caminhoneiros, o varejo do setor começou a sentir os reflexos da paralisação. Com a impossibilidade da indústria de entregar, rapidamente, as lojas começaram a ser afetadas. Desde então, de acordo com o presidente da Fecomac-SC, as revendas do segmento, na região de abrangência da entidade, começaram a sentir o desabastecimento  de produtos considerados de giro rápido como o cimento.  “Eu acredito que a manifestação terá um impacto muito grande sobre o setor”, lamentava Novakoski.
Segundo o presidente da Fecomac-SC, a saída, em princípio, para não deixar os clientes sem mercadorias, será comprar dos distribuidores. “Quando os lojistas perceberem que as marcas líderes estão em falta, vão tentar honrar seus compromissos entregando outras marcas secundárias”, opinou.
Na região de Campinas, no interior paulista, a situação também era similar: o cimento está sumindo das prateleiras. Wilson Takashi, presidente da Associação dos Comerciantes de Material de Construção (Acomac) de Campinas, conta que as revendas locais estavam com dificuldade em receber o produto de várias cimenteiras. “Tentou comprar indiretamente, por meio de dois distribuidores, mas as tentativas foram em vão. Eles estão sem receber desde terça-feira e também não têm o cimento para vender”, completa Takashi.
Segundo ele, o entrave maior está acontecendo com as empresas que terceirizam as entregas e quando o serviço é próprio da indústria o problema não estava ocorrendo.
Luiz Augusto Gonçalves Barbosa, diretor do Depósito Zona Sul (SP), diz que desde terça-feira – segundo dia da greve- está sentindo o reflexo da paralisação. Ele comenta que uma marca de cimento já deixou de entregar e que, diante da falta do produto, na venda já oferece o item de outra empresa para o cliente. “Ainda não estão estamos tendo grandes problemas, mas é uma situação grave”, conclui.

Quinto dia e a paralisação continua
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