Recorde de endividados em 2022 - Revista Anamaco

Endividamento e inadimplência

Recorde de endividados em 2022

Texto: Redação Revista Anamaco

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC), revela recorde no total de endividados, em 2022, nas duas faixas de renda. De acordo com o estudo, no ano passado, 77,9% das famílias no País contraíram dívidas nas principais modalidades - cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamento de carro, financiamento de casa e outros tipos de dívida. Em termos absolutos, a cada 100 famílias, 78 se endividaram, recorde da série anual iniciada em 2010. O crescimento anual de sete pontos percentuais na proporção de endividados foi o quarto consecutivo e o maior já observado na pesquisa, que mostra aceleração no pós-pandemia.
O rápido aumento dos juros entre 2020 e 2022 coincidiu com aumento de 14,3 pontos na proporção total de endividados no País. Essa dinâmica se distingue, por exemplo, da observada entre 2013 e 2016, em que o ciclo de aperto dos juros foi acompanhado de redução do endividamento. A queda dos juros para nível abaixo de dois dígitos em 2018 estimulou o uso do crédito e, consequentemente, o maior endividamento entre os brasileiros.
Já no pós-pandemia, os consumidores intensificaram a busca por crédito mesmo em um contexto de alta dos juros. A parcela de endividados mostrou recorde e tendência de alta nas duas faixas de renda pesquisadas. A proporção de endividados alcançou 78,9% das famílias do grupo com até dez salários mínimos de renda mensal, e 74,3% entre as com mais de dez salários de rendimento. 
O levantamento mostra que, pela primeira vez na história da pesquisa, a proporção de endividados entre os mais ricos alcançou mais de 70% de consumidores, que essencialmente utilizaram o cartão de crédito para financiar despesas com a retomada do consumo de serviços, viagens e entretenimento fora de casa a partir de 2021.
Entre as famílias mais pobres, o crédito foi fundamental para recomposição da renda e suporte ao consumo de itens de primeira necessidade, diante dos efeitos da crise sanitária sobre o emprego formal e informal e da alta da inflação. Para todos os consumidores, as inovações tecnológicas nos serviços financeiros incentivaram o uso do crédito na aquisição de bens e serviços de forma geral.
A evolução positiva do mercado de trabalho e as medidas transitórias de suporte à renda ao longo de 2022 (saques extraordinários do FGTS, antecipações do 13º salário do INSS e ampliação do Auxílio Brasil) se refletiram na atenuação do endividamento no segundo trimestre. A dinâmica mais favorável, embora temporária, da inflação na segunda metade do ano, e a nova turbinada nos programas de transferência de renda, também melhoraram a receita disponível no fim do ano. 
 O estudo revela, ainda, que do total de consumidores com dívidas, 17,6% relataram estar “muito endividados” em 2022, alta de 3,1 p.p. ante 2021. Entre as famílias mais pobres, a percepção sobre o nível de endividamento foi ainda pior: duas em cada dez se sentem muito endividadas, e 23% das endividadas estavam com mais da metade da renda comprometida com dívidas. 
 Os dois indicadores de inadimplência da Peic tiveram aumento em 2022, revertendo as quedas entre 2020 e 2021. Com a alta do volume de endividados no contexto de inflação e juros elevados, o ano marcou a concretização da inadimplência como um problema social. O incremento na proporção média de famílias com dívidas atrasadas no ano passado (3,7 p.p.) foi o maior registrado na pesquisa, após queda em 2021. A expansão do crédito e o avanço do endividamento no contexto de acirramento das despesas com juros ao longo do ano dificultaram a gestão do orçamento doméstico, o que levou a proporção média de famílias com dívidas em atraso ao recorde de 28,9% do total de lares no País.
A cada mil famílias com até 10 SM, em média 323 atrasaram o pagamento de dívidas no ano passado, o maior número desde 2010. Entre as que atrasaram, 46% não pagaram em 90 dias. Ou seja, das 323, 149 ficaram com os atrasos por mais tempo. Entre as famílias de maior renda, 2022 registrou o terceiro ano consecutivo de alta na proporção das com dívidas atrasadas: a cada mil consumidores nesse grupo, em média 133 atrasaram dívidas - aumento de 1,5 p.p., o maior em seis anos.
Assim como nos anos anteriores, o cartão de crédito foi a modalidade de dívida mais citada pelas famílias em 2022: 86,6% daquelas com dívidas, na média anual. A segunda modalidade que mais cresceu entre os endividados nesse intervalo registrou alta bem mais modesta: 2,1 pontos, o financiamento imobiliário. 
As modalidades de financiamento (casa e carro), ou o crédito de longo prazo, perderam espaço como proporção dos endividados. O mesmo ocorreu com o crédito consignado, que embora esteja entre as linhas de crédito com menores taxas de juros do mercado, foi opção de endividamento para apenas 5,5% do total de endividados. 
Foto: Adobe Stock
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